sábado, 16 de janeiro de 2010

A CAMINHO DA SEXTA EXTINÇÃO EM MASSA?

Com o intuito de dar maior visibilidade ao problema da perda da biodiversidade, a ONU lançou a toda a comunidade internacional um importante desafio: consagrar 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade. Não obstante tratar-se de um assunto inequivocamente global, com repercussões globais que transcendem os limites de quaisquer fronteiras geográficas, a preservação da biodiversidade parece ser ainda encarada como uma questão menor pelos decisores políticos e população em geral.
Surpreendentemente (ou talvez não) os biólogos não estão de acordo, nem na ordem de magnitude mais próxima, relativamente ao número de espécies vivas na Terra. O número de estimativas científicas, incluindo organismos microbianos, varia entre 2 a 200 milhões de espécies; ou seja, não fazemos a mínima ideia de quantas espécies habitam actualmente o nosso planeta. Sabemos apenas que aproximadamente 1.8 milhões de espécies – certamente uma ínfima parte – encontram-se descritas e nomeadas.
Para este enorme desconhecimento contribuem diversos factores, entre os quais a constante extinção de espécies e, também, a descoberta de outras -
aproximadamente 10.000 novas espécies são encontradas todos os anos, a maioria das quais animais pequenos, como insectos. Mesmo nos grupos bem conhecidos, como aves e mamíferos, novas espécies continuam sendo encontradas todos os anos, principalmente nas regiões tropicais, numa taxa de aproximadamente 1 a 5 aves e 1 a 5 mamíferos por ano.
No reverso da medalha temos as extinções. A este propósito convém sublinhar que desde que surgiu a vida no nosso planeta sempre houve - e hão-de continuar a haver -
extinções, conforme demonstram inúmeros estudos paleontológicos realizados. Por essa razão, a extinção de espécies deve ser encarada como um processo natural (99.9% das espécies que já colonizaram o planeta encontram-se extintas). A verdade é que a maioria das espécies fósseis duraram poucos milhões de anos. No entanto, nunca antes a taxa de extinção foi tão elevada quanto na actualidade. A taxa de extinção histórica está estimada pelos paleontólogos em cerca de 0,1 espécies por ano enquanto que a taxa de extinção actual cifra-se entre as 100 – 1000 espécies por ano. Estas taxas resultam do facto de o tempo médio de vida por espécie ter decaído drasticamente de 1.000.000 de anos para somente 10.000. Desde o ano de 1800 mais de 75% das espécies de mamíferos se extinguiram, sendo que cerca de 100 espécies de aves e mamíferos perderam-se só nos últimos cem anos. Hoje, cerca de 25% das espécies (ainda) existentes encontram-se ameaçadas de extinção. Perante este cenário irrefutável, confirmado pela Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), várias questões impõem-se: terá o mundo entrado numa sexta extinção em massa? Se sim, quais as razões que estarão na origem deste fenómeno? Que consequências daí resultarão para a humanidade?
Antes de mais, convém recordar que as extinções em massa históricas coincidiram sempre com mudanças ambientais globais, incluindo diversos tipos de catástrofes naturais. Desta vez, porém, parecem não subsistir dúvidas de que a crise actual tem origem antropogénica (causas induzidas pela acção humana), nomeadamente a destruição de habitats, exploração directa ou indirecta dos recursos biológicos, introdução de espécies invasoras nos ecossistemas ou dispersão de doenças pelo Homem.
Se dúvidas (ainda) houverem sobre o porquê do interesse urgente em travarmos já a perda de biodiversidade, sugiro que analisemos a importância dos recursos biológicos numa perspectiva antropocêntrica que, não obstante considerar eticamente incorrecta, poderá ajudar a convencer os mais cépticos relativamente a toda esta problemática da conservação da diversidade biológica.
Um dos principais argumentos tem a ver com o factor alimentação. Aproximadamente 150 plantas "apenas" são utilizadas como alimento pelo Homem a escalas globais. Porém, como resultado da economia global, 90% dos alimentos mundiais procedem apenas de 15 espécies, sendo que, destas, três espécies de cereais – trigo, milho e arroz – contribuem com 2/3 da totalidade desses alimentos. Perante estes dados, julgo inevitável questionarmo-nos sobre as possíveis consequências de uma eventual doença que dizimasse alguma (s) destas espécies. Estará a população mundial preparada para a possibilidade do desaparecimento do trigo, do milho ou do arroz?
Outro dado relevante tem a ver com o facto de a indústria farmacêutica ser mais dependente dos produtos naturais do que parece. O potencial para descobrir novos medicamentos na Natureza é enorme e representa um dos argumentos mais poderosos para conservação da biodiversidade, especialmente no caso das florestas tropicais. Ainda hoje, mais de 60% da população mundial depende quase inteiramente para os seus cuidados primários de medicamentos obtidos a partir das plantas, sendo que ¼ dos medicamentos prescritos a nível mundial procedem directamente das plantas ou foram transformados quimicamente a partir de substâncias nelas presentes.
A estes argumentos poder-se-iam juntar ainda muitos outros como os chamados serviços ecossistémicos, benefícios directos ou indirectos que as pessoas obtêm dos ecossistemas, como por exemplo a regulação do clima, polinização ou a reciclagem da matéria.
Resumindo e concluindo, ou travamos a perda da biodiversidade JÁ ou o futuro do nosso planeta, e o da nossa espécie em particular, não passará de uma miragem a muito curto prazo.


Renato Azevedo (Mestrando em Biodiversidade e Conservação)

3 comentários:

alexandre correia 7c disse...

tantos animais extintos, e uma pena...

Dinarte 7ºC disse...

Muitos animais estão em risco de extinção. Papagaio-de-cara-roxa, lagartixa-da-areia, peixe-boi, cavalo marinho, gorila, chipanzé, panda, tigre, rinoceronte, tucano, tartaruga marinha... Outros já foram extintos, se acabaram de vez. E outros, embora ainda em perigo, estão em recuperação!

Ricardo disse...

para mim devia criar uma associação que tivesse esforço, interesse, empenho, comportamento adequado... que era para que?
-Para aqueles animais que estam mesmo quase a extinguir-se essas pessoas ajuda-las.
Ricardo 7ºB